Forfait (também conhecido como risco sacado) é uma estratégia comumente utilizada por empresas para realizar pagamentos a fornecedores por meio de instituições financiadoras. Embora seja uma estratégia contábil legalizada, pode se tornar um problema se registrada de forma errada no balanço da companhia - que é o caso da Americanas. Entenda:

Depois de apenas 10 dias no cargo, o CEO da Americanas, Sergio Rial, renunciou em meio a notícias de uma inconsistência financeira de mais de R$ 40 bilhões no balanço financeiro da Americanas, uma das maiores varejistas do Brasil. A notícia chocou o stakeholders em todo o país e, desde o anúncio, no dia 11 de janeiro, tem impactado negativamente as ações da companhia. Para você ter uma ideia, a ações da Americanas chegaram a cair acima de 77%, um recorde de queda desde 2008.

Assim que a notícia saiu, a grande questão que surgiu foi: como isso aconteceu? Da onde vem um erro tão grande de contabilidade? A quantia certamente chama a atenção - principalmente quando consideramos que, por trás da Americanas, estão acionistas bilionários como Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles.

Especialistas tem apontado que a estratégia forfait é uma das grandes "vilãs" por trás desse erro. Para entender melhor a situação, te convidamos a assistir ao vídeo abaixo. Nele, Bruno de Oliveira, fundador do Ecommerce na Prática, explica um pouco sobre o que pode ter acontecido e dá um panorama breve do mercado. 

O que é forfait? 

O forfait – que também é conhecido como risco sacado – é uma forma de pagamento de dívida que consiste no financiamento da quantia por uma instituição financeira (como um banco). Desta forma, a instituição financeira realiza todo o pagamento da dívida e assume o risco (daí vem o "risco sacado") da operação. Depois, a empresa que solicitou o forfait faz o pagamento à instituição financeira seguindo um acordo prévio, que pode determinar prazos e preços mais vantajosos para a empresa.

Essa é uma estratégia comum em empresas de varejo. Para facilitar o entendimento, imagine que uma varejista - como Americanas - tenha uma dívida a pagar com um fornecedor. Para concluir uma operação de forfait, a companhia faria um acordo com o banco que a financiou para fazer o pagamento para o fornecedor. Então, a varejista quitaria a dívida diretamente com o banco. 

É uma prática interessante, certo? Assim, a empresa evita grandes gastos de uma vez com fornecedores, o que poderia impactar negativamente o fluxo de caixa.

No entanto, esta operação pode gerar problemas fiscais graves se não for apontada corretamente no balanço financeiro. Isso porque, dependendo de onde é incluído, o financiamento distorce a real situação financeira da empresa, que deixa de reconhecer o valor devido em suas despesas. 

De acordo com fontes internas, o grande problema para a Americanas foi a subestimação deste valor no longo prazo. Por muitos anos, as quantias devidas relacionadas às operações de forfait não foram registradas no balanço de forma correta. 

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Como funciona o risco sacado?

O risco sacado funciona assim: a empresa recebe produtos de seu fornecedor – ou a execução de serviços – antes de completar o pagamento. O valor e a forma de pagamento são acordadas previamente entre as partes. 

Durante a operação, o fornecedor é responsável por emitir uma fatura com um prazo a ser financiado por um banco ou instituição financeira autorizada. Essa quantia passa a ser um risco sacado – tendo um banco credor que oferece esse crédito para a empresa. 

Nesse contexto, o valor da venda não é considerado pelo fornecedor em sua contabilidade no momento em que a operação acontece. Igualmente, a empresa que está pagando não reconhece o valor de saída de seu passivo oneroso, ou seja, do seu conjunto de gastos mensais e obrigatórios.

Em vez disso, o valor é classificado como um passivo de fornecedores.  

Quais são as vantagens do risco sacado?

A principal vantagem do risco sacado permite que empresas estejam em dia com o pagamento de seus fornecedores, sem esgotar seus recursos de caixa. Isso acontece porque o forfait permite que empresa compradora – ou seja, a contratante – tenha a possibilidade de aumentar os seus prazos de pagamento, tendo mais tempo para organizar o seu fluxo de caixa. Além disso, toda a operação é segura e garantida pelo banco, dessa forma, as taxas são menos custosas para a companhia.

Vale lembrar também que as operações de forfait são isentas de imposto IOF, e também geram outras vantagens fiscais para a empresa.

Para o fornecedor, a vantagem é clara: o fechamento do negócio pode ser antecipado, já que o valor é garantido pela instituição financeira. Assim, dificilmente o fornecedor sairá no prejuízo.

Forfait na prática: o que aconteceu na Americanas?

Na quinta-feira, dia 12 de janeiro, o agora ex-CEO Sergio Rial enviou um vídeo a acionistas explicando que a companhia tem uma dívida bruta que varia entre R$ 18 bilhões e R$ 19 bilhões, enquanto o seu caixa está entre R$ 8 bilhões e R$ 9 bilhões.

De acordo com Rial, o patrimônio líquido da empresa é de R$ 16 bilhões.

Ao menos por enquanto, o comunicado não deixa claro, exatamente, o que aconteceu. No entanto, especialistas do mercado financeiro apontam que, muito provavelmente, o rombo bilionário ocorreu  por conta de uma operação conhecida como forfait.

Ela é muito comum para empresas de varejo de grande porte, e deveria ter sido registrada como dívida no balanço contábil. 

O que acontece com a Americanas a partir de agora? 

Com o valor de forfait se tornando explícito, os parâmetros de endividamento da empresa mudam e, consequentemente, muda o seu posicionamento dentro do mercado. Muitos credores já reclamaram seus pagamentos e, com isso, o caixa da Americanas diminuiu drasticamente, colocando a empresa em uma situação muito delicada.

As informações que a empresa ofereceu ao mercado para obter crédito não são mais verdadeiras, o que impacta diretamente as garantias. Isso pode ser um grande impulso para que credores peçam a antecipação de pagamentos. 

Recentemente, a empresa entrou com um pedido de recuperação judicial, uma última medida para tentar proteger o caixa e renegociar o prazo de suas dívidas. Caso o pedido seja aceito, há uma esperança para o grande marketplace.

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O que o lojista que vende na Americanas deve fazer? 

Em um primeiro momento, lojistas que usam a Americanas para efetuar vendas não verão um impacto em seus pagamentos, já que a empresa é apenas uma intermediária nas transações. Isso quer dizer que os lojistas que vendem na Americanas, ou algum de seus marketplaces, podem continuar operando normalmente.

Com o pedido de recuperação judicial – e a possível declaração de falência – é preciso repensar o marketplace como seu canal de vendas.

Esse episódio nos traz à reflexão um assunto muito importante: a dependência dos marketplaces.

Querendo ou não, quando você concentra toda a operação da sua loja em um marketplace, você está sujeitando o seu negócio a essas flutuações do mercado. E esse tipo de situação pode ser inconveniente em qualquer escala.

Quem nunca passou por um aperto quando a plataforma de marketplace resolveu mudar políticas de entrega, cobrança ou pagamento? Nós vemos isso acontecer todos os anos, em todas as plataformas. 

Agora imagine, por exemplo, se a sua empresa dependesse inteiramente da Americanas em uma situação como essa. Você poderia ver seu negócio evaporar do dia para a noite, sem poder fazer nada a respeito.

Por isso, é preciso entender que, enquanto vender em marketplaces é uma ótima opção, ela precisa ser acompanhada de outras estratégias de venda. Nesse caso, ter um site de vendas próprio – ou seja, a sua própria loja virtual – é a opção mais segura. 

Muitos empreendedores, no entanto, ainda se sentem intimidados ou inseguros na hora de criar a sua própria loja virtual. Foi por isso que criamos o treinamento Loja Virtual do Zero, que te ensina todos os passos para tirar o seu site de vendas do papel e alavancar as vendas. 

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