Falar na crise do coronavírus sem chover no molhado não é tarefa fácil, mas é isso que vamos fazer neste artigo. O objetivo aqui é tentar visualizar o cenário do Ecommerce depois que toda essa tempestade passar. Afinal, quais tendências vieram para ficar?

Como você já deve ter percebido, o cenário atual forçou empresas dos mais diversos setores a apressarem seus processos de migração para o online.

Todo mundo precisou correr contra o relógio para se adaptar à pandemia. E nesse contexto de caos, oportunidades inevitavelmente aparecem. 

Crise do coronavírus já mudou hábitos de consumo

Os hábitos de consumo passaram por grandes mudanças com a crise do coronavírus. 

Enquanto este artigo está sendo escrito, decretos estaduais e municipais mantêm fechados os serviços considerados não essenciais — o que por si só já obriga o consumidor a buscar soluções online.

E é o que eles estão fazendo. 

Um relatório da Global Web Index apurou que 95% dos consumidores estão passando mais tempo online. Um dos reflexos desse dado é o crescimento nas compras pela internet.

De acordo com a Compre & Confie, o faturamento do Ecommerce cresceu 28% nos meses de fevereiro e março em comparação com o mesmo período de 2019.

Mas nem todos os setores registram crescimento, é claro. Na verdade, a maioria das empresas vive um momento delicado. O que estamos vendo crescer é a procura por bens de consumo rápido e isso representa uma grande mudança nos hábitos do consumidor brasileiro. 

Vamos falar mais sobre o porquê disso nas próximas linhas, ok? 

Pandemia pode acelerar o crescimento de setores do Ecommerce

As chamadas “categorias de despensa” (alimentos, produtos de limpeza e higiene) estão registrando altas impressionantes durante a pandemia. 

Só para dar uma ideia da dimensão de tudo isso: a Nielsen apurou que a venda online de antissépticos para mãos cresceu 623% da última semana de fevereiro para a primeira semana de março.

Há pouco tempo, produtos desse tipo eram pouco expressivos no Ecommerce brasileiro, mais focado na venda de bens duráveis (moda e acessórios, eletrônicos e artigos para casa, por exemplo). 

A recente mudança no hábito de consumo pode indicar um passo rumo ao que já acontece em países onde o Ecommerce é mais desenvolvido, como Estados Unidos, França e Reino Unido. 

Nesses locais, o comércio eletrônico já é usado para a compra de bens não duráveis e até mesmo de itens perecíveis. A crise do coronavírus pode ter acelerado a evolução desse nicho de Ecommerce em terras brasileiras.

Nas palavras de Zhong Zhenshan, vice-presidente de Pesquisa em Tecnologias Emergentes da International Data Corporation (IDC), “as pessoas estão se movendo gradualmente da compra offline para a online e o hábito não vai desaparecer quando a epidemia acabar”. 

Um olhar para o passado: a SARS na China em 2002/2003

A Síndrome Aguda Respiratória Grave (mais conhecida como SARS, do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome) foi uma epidemia que se espalhou pela China entre 2002 e 2003. 

A doença, também causada por um tipo de coronavírus, hoje é considerada um dos motivos por trás da ascensão de grandes empresas como Alibaba e JD.com. 

Assim como acontece agora, a epidemia de SARS fechou o comércio e impôs o isolamento social para os chineses. Na época, porém, o comércio eletrônico era muito mais restrito do que hoje em dia. 

Com seus funcionários alocados em home office, a Alibaba desenvolveu o Taobao, site de vendas online que rapidamente superou o eBay, então a maior empresa do setor. Atualmente, a Alibaba é dona de vários Ecommerces além do Taobao e tem um valor de mercado avaliado em US$ 573 bilhões. 

Já a JD.com (então JD Multimedia) era uma rede de lojas físicas que vendia equipamentos eletrônicos. Com a epidemia da SARS, a empresa precisou anunciar seus produtos na internet para continuar funcionando.

A grande sacada da JD foi utilizar o estoque de sua rede de lojas físicas para distribuir as encomendas mais rapidamente para os clientes. Deu tão certo que a empresa é avaliada em mais de US$ 200 bilhões atualmente.

De volta ao presente (e de olho no futuro)

O exemplo da China do começo dos anos 2000 nos dá algumas pistas sobre o nosso próprio futuro daqui para a frente.

O cenário após a crise do coronavírus com certeza será diferente daquilo a que estamos acostumados. 

É impossível prever com exatidão quais tendências vão se consolidar depois da pandemia, mas é possível visualizar o que está ganhando espaço. Continue lendo e confira alguns caminhos promissores que o Ecommerce pode trilhar.

E-grocery 

O e-grocery — nome dado à modalidade de Ecommerce praticada pelos supermercados — já estava em ascensão antes da crise do coronavírus. Agora, dado o contexto de isolamento, a tendência ganhou ainda mais força.

A praticidade de fazer as compras da despensa pela internet já é forte nos Estados Unidos. Por lá, o valor do mercado de e-grocery mais do que dobrou em apenas 2 anos, de US$ 12 bilhões em 2016 para US$ 26 bilhões em 2018. 

Esse mercado é bem menos desenvolvido aqui no Brasil. Uma pesquisa do banco suíço UBS apurou que a venda online de alimentos representava apenas 0,4% do total de vendas de alimentos no país em 2018.

De lá para cá as coisas estão mudando rapidamente. Com a crise do coronavírus, redes como Pão de Açúcar e Carrefour viram seus serviços de e-grocery serem sobrecarregados em pouco tempo, o que forçou as empresas a estenderem o tempo médio de entrega.

E o que podemos deduzir disso tudo? Bem, provavelmente não é exagero dizer que o e-grocery veio para ficar. Quem tiver boas experiências comprando itens do dia a dia pela internet tem grandes chances de continuar com o hábito mesmo depois da crise, né?

Podemos estar presenciando a expansão de um nicho com grande potencial no Ecommerce. Se consolidada, a tendência abre espaço para empreendedores interessados em vender bens de consumo rápido na internet. Até mesmo mercados de bairro podem entrar no jogo. 

Delivery

Antes questão de comodidade, o delivery passou a ser vital tanto para empresas como para consumidores durante a pandemia.

De fato, a demanda dos aplicativos de entrega cresceu significativamente com a quarentena. 

O Rappi, app de entregas com atuação em 140 cidades brasileiras, registrou aumento de 30% no volume de pedidos, com destaque para as categorias de farmácias, supermercados e restaurantes.

Os concorrentes iFood e Uber Eats vivenciam um momento parecido. Isso sem falar nas centenas (e talvez milhares!) de negócios que começaram a operar via delivery para driblar a crise.

Quando tudo isso passar, é provável que o delivery se expanda no Brasil. Hoje, a modalidade é predominantemente usada por bares e restaurantes, mas a tendência é que cada vez mais setores comecem a enviar encomendas via delivery.

Vendas via redes sociais e aplicativos de mensagem 

Faz tempo que as redes sociais e os aplicativos de mensagem (com destaque para o WhatsApp) estão sendo usados para vender. 

O poder desses canais já existe desde antes da crise do coronavírus, porém o contexto atual com certeza está contribuindo para a consolidação desse modelo de vendas.

Como já falamos acima, um estudo da Global Web Index apurou que 95% das pessoas estão passando mais tempo conectadas à internet. A mesma pesquisa também constatou que 45% dos consumidores estão usando as redes sociais com mais intensidade.

O próprio Facebook analisou dados dos países mais impactados pela pandemia e constatou um aumento de mais de 50% no número total de mensagens trocadas nos serviços da plataforma, que também é dona do Instagram e do WhatsApp. 

Ou seja: as pessoas estão ainda mais presentes nas redes sociais. As empresas capazes de estabelecer uma comunicação eficiente nesses canais têm uma ótima oportunidade de atrair e fidelizar clientes.

Principais vantagens de vender nas redes sociais e no WhatsApp

  • A curva de aprendizado é menor, você não precisa se adaptar a uma tecnologia nova.
  • O contato com o cliente é mais próximo e rápido, favorecendo a conversão e a fidelização.
  • Ao contrário do que acontece em marketplaces e em algumas plataformas de Ecommerce, não são cobradas comissões pelas vendas efetuadas.

Principais desvantagens de vender nas redes sociais e no WhatsApp

  • Exige tempo (mesmo com automações, a operação ainda é mais manual do que vender em uma loja virtual, por exemplo).
  • As principais redes sociais (Facebook e Instagram) ainda não possuem integração com meios de pagamento e envio. O Facebook está testando o serviço Facebook Pay para permitir pagamentos de forma integrada, mas por enquanto ele só está disponível nos Estados Unidos.

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Serviços online e produtos digitais

O isolamento social imposto pela crise do coronavírus deslocou uma série de atividades do mundo físico para o virtual. Reuniões, aulas, exercícios, eventos e até shows começaram a ser realizados pela internet.

Não é à toa que serviços de videoconferência (como Zoom, Google Hangouts e até as chamadas em vídeo do WhatsApp) passaram a ser mais usados (e valorizados) do que nunca. 

E o que isso importa para o Ecommerce? 

Para a venda de produtos físicos, muito pouco. Para a venda de produtos digitais, no entanto, isso pode ser uma oportunidade interessante. 

Mais pessoas usando a internet para atividades antes presenciais é sinônimo de mais pessoas percebendo que certas atividades talvez não precisem ser presenciais — e isso abre uma janela para, quando a crise acabar, uma fatia do público continuar utilizando a rede para realizá-las.

Vamos pensar na questão dos exercícios físicos em casa, por exemplo. A Netshoes divulgou dados mostrando que a venda de equipamentos para treinar por conta própria se intensificou durante a quarentena. 

Algumas categorias de produtos (halteres, cordas e colchonetes) registraram crescimento na casa dos 2.000%! A mesma tendência foi observada pelo Mercado Livre. 

Agora vamos entrar no terreno da especulação, ok? Pense que algumas das pessoas que investiram em equipamentos podem acabar gostando do modelo. É justo supor que esse público possa ter interesse em formas virtuais de treino mesmo depois da pandemia, não acha?

O exemplo se aplica a vários nichos.

No fim das contas, só o tempo vai dizer se os serviços online e os produtos digitais vão expandir a sua fatia de mercado.

De qualquer forma, vale a pena ficar de olho. Você tem algum conhecimento capaz de ser transmitido pela internet? Ou presta algum serviço que poderia ser realizado de forma remota? Agora pode ser uma boa hora de criar um negócio com esse direcionamento. 

Conclusão

Esperamos que a leitura deste artigo tenha sido proveitosa para você. 😊

Para finalizar, é importante ter em mente que, independentemente das novas tendências, o básico continuará sendo essencial para determinar o sucesso de um negócio online.

E quando falamos em básico, do que estamos falando? Bom, são alguns aspectos sem os quais nenhum Ecommerce dá certo:

  • Pagamento: nem precisamos dizer por que é tão importante disponibilizar os meios de pagamento mais utilizados pelos seus clientes, né? 
  • Antifraude: o controle de fraudes pode não fazer tanta falta no começo do Ecommerce, mas é imprescindível à medida que a empresa crescer e passar a ser visada por grupos mal-intencionados
  • Marketing: não ter objetivos de marketing bem definidos é como sair dirigindo aleatoriamente pela cidade. Você até pode chegar a algum lugar, mas provavelmente não vai ser aonde você queria ir. 
  • Atendimento: responder dúvidas, solucionar problemas e estar presente para o cliente faz parte da rotina de um negócio de sucesso.
  • Logística: esse é o calcanhar de Aquiles de boa parte das lojas virtuais brasileiras e o motivo nº 1 dos abandonos de carrinho. Oferecer opções variadas e competitivas de frete (algo simples de conseguir com tecnologias como a do Melhor Envio) é essencial para conseguir vender pela internet.

Antes, durante e depois da crise do coronavírus: todos esses itens são vitais para um Ecommerce prosperar. Estar sempre atento às tendências é importante, mas o essencial nunca pode ser deixado de lado.